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A Alma de uma Sogra por Zeca Pereira




Se falar em sogra é
Motivo de gozações,
De críticas, até piadas,
Mentiras e discussões;
Neste cordel eu darei
Boas contribuições. 

Eu como já tenho ouvido,
Histórias de todo jeito,
Certa vez escutei esta
Contada por um sujeito,
Sobre a morte duma sogra 
E seu enterro mal feito.

Ele disse: - A minha sogra,
Lembro dela quando viva.
Era bem pior que o Demo 
Tinha maneira agressiva,
Se cuspisse numa cobra
Matava com a saliva!

Falava de todo mundo
Não respeitava ninguém.
Batia em cara de homem
Pois sabia brigar bem,
Soldado corria dela
E o delegado também. 

O seu nome era Maria,
Apelido Marião.
Era alta, bastante forte,
Seis dedos em cada mão.
Infeliz quem procurasse
Com a velha, confusão. 

Se chegasse num forró
Logo a festa se acabava,
Pois o cacete comia, 
Gente pelo chão rolava.
Todos hospitais enchiam
Nos dias que ela brigava. 

Certa vez chegou na feira
Fazendo o maior regaço.
Bateu gente, virou banca,
Levando tudo no braço.
Fez o povo recordar
Lampião, rei do cangaço. 

Um dia pegou um cara
Que dizia ser valente.
Em uma troca de socos
Quebrou-lhe dente por dente
Depois fez ele engolir
Meio litro de aguardente.

Um dono de bar ao vê-la
A sua porta fechava
Mas, ela metia o pé,
A porta abria ou quebrava,
Após beber à vontade
Ia embora e não pagava.

Eu fui forçado a casar
Com sua filha tão feia.
Sofrendo grande ameaça
Até de cair na peia,
Menina louca por homem
Ela chora e esperneia.

No dia do casamento
Não apareceu ninguém.
O padre se escafedeu,
Ela olhou e disse: - Bem!
Os dois já estão casados 
Na lei de Deus Pai, amém!

Único orgulho que tinha
Ser genro de Marião
Era nenhum vagabundo
Querer me tocar a mão.
E polícia nem pensava
Em me levar à prisão. 

Mas agora eu vou falar 
Da forma como morreu,
O que passou no velório
E tudo que aconteceu
Com sete dias depois
De enterrar o corpo seu. 

Era um dia ensolarado,
Quando bebia a cachaça
Misturada com limão,
Pois adquiriu de graça
Mas, havia uma mistura
"Para tirar sua raça".

E foi na segunda dose
Quando Marião caiu
De costa e não levantou.
A morte lhe sucumbiu.
De onde veio, a tal cachaça?
Ninguém sabe, ninguém viu!

No dia do seu velório
Houve festa lá na praça
Havia músicas e dança,
Comes e bebes de graça.
O povo feliz gritava:
-Bendita seja a cachaça!  

Eu me encarreguei de tudo 
Logo depois que morreu, 
Mas, quando levei na igreja,
O padre não recebeu
Nem o coveiro aceitou
Enterrar o corpo seu. 

O coveiro disse a mim
Com seu gesto bem gaiato:
- Agora preste atenção,
Num ditado bem exato
O qual diz meu caro amigo
"Quem enterra merda é gato"

Sem saber o que fazer
No dia do funeral
Como enterrar o seu corpo
Procurei outro local
Onde consegui fazer
Um sepulto especial. 

Segui então um conselho
Quando fui a sepultar
Eu coloquei de debruço 
Pois no caso de tornar,
Cavaria pra o Japão
Sem conseguir retornar.

Rezei o credo às avessas
E fiz o sinal da cruz,
Sai do local dizendo:
- A livrei dos urubus,
Talvez ela enterrada ache
Um lugar que tenha luz. 


Com sete dias depois
Que fiz o sepultamento,
Foi aí que começou
Nessa vida o meu tormento.
Sua alma não me deixou
Descansar um só momento.

Ainda cedo da noite
Eu resolvi me deitar.
Estava muito enfadado
Precisando descansar
Naquele instante eu ouvi
Sua voz a me chamar: 

-Ô meu genro sem futuro,
Levanta cabra safado!
Fizeste aquilo comigo
Vai me pagar, condenado.
Meu cabelo arrepiou
Que fiquei todo gelado.

Naquela hora eu rezei,
Eu fiz depressa uma oração
Pedindo pra Jesus Cristo
Que lhe desse o seu perdão.
E também me perdoasse
Por ter feito aquela ação.

Sumiu mas, dia seguinte 
Eu a escutei novamente.
Fiz uma nova oração
Começando ficar crente
Que seria atormentado
Por ela diariamente. 

Mesmo morrendo de medo
Resolvi lhe perguntar
O que sua alma queria
Para não me perturbar,
Foi quando ela pediu
Para lhe desenterrar. 

Sua alma me disse assim: 
_Agora escuta sujeito,
Vá bem depressa ao local
Onde o enterro foi feito
Preciso que você faça 
O meu sepulto direito.


E caso não me obedeça
Nunca mais terá sossego,
Toda noite eu voltarei
Pra tirá-lo do aconchego.
Perturbá-lo dia e noite
Será esse o meu emprego.

Aí eu tomei coragem
E para ela disse assim:
-Sogra, sei que tu morreste,
Desta vida levou fim
E mesmo depois de morta
Queres perturbar a mim? 

Vá pro quinto dos infernos
E perturbe o satanás
Eu sei que depois de morta
É isto que você faz.
Sogra, como já morreste
Deixe minha vida em paz! 

Ela respondeu:- Meu genro,
Você agora entendeu!
Eu quando cheguei no inferno
Satanás de lá correu
Dizendo-me: - Marião,
Tome conta, é todo seu.

Você assuma o inferno
E faça o que bem quiser.
No memento eu lhe gritei:
- Volte aqui seu Lúcifer!
Ele desapareceu
Com medo desta mulher. 
.
A única coisa que falta
Pra o inferno eu governar
É você ir apressado
Bem direito me enterrar
Para que todos diabos
A mim possam respeitar.

Não existe governanta
Sepultada sem respeito
Por um genro sem vergonha,
Descarado deste jeito
Por isto quero que faça
O meu enterro direito.


Sabendo de toda história.
Falei será um prazer.
Como não vou ao inferno
Mesmo depois de morrer,
Eu farei o seu pedido
Sem de nada arrepender.

Ali apressadamente
Da minha cama pulei.
Pro local do seu enterro
Muito apressado marchei.
E meia hora depois
O corpo desenterrei.

Segui toda a exigência 
Da forma que ela pediu.
Daquele dia em diante,
O meu sossego existiu. 
Acredito que o inferno
Desta vez ela assumiu.

Se você tem uma sogra
Nunca queira lhe enterrar
Da forma que eu enterrei
Com medo dela voltar,
Pois sua alma pode vir
Querer só lhe atormentar.

Segundo o ditado diz
Muito feliz foi Adão:
Tendo a Eva por mulher
Convivendo em união,
Porém nunca teve sogra
Pra fazer azaração. 

Fim.




Literatura de Cordel pela Nordestina Editora
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