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Chile - História, Geografia e Cultura

A palavra aimará chili, que significa "confins da Terra", deu nome à república sul-americana do Chile, que se encontra praticamente isolada do resto do continente pela grande muralha dos Andes. A República do Chile é formada por uma estreita e longa faixa de terra compreendida entre a cordilheira dos Andes e o oceano Pacífico. Seus 756.626 km2 se estendem ao longo de 39 graus de latitude, na parte meridional da América do Sul.

Limita-se ao norte com o Peru, ao nordeste com a Bolívia, a leste com a Bolívia e a Argentina, e a oeste com o oceano Pacífico. Além do território continental, o Chile possui várias ilhas costeiras (Chiloé, Wellington, Hanover, Santa Inês etc), a metade ocidental da Terra do Fogo, o arquipélago Juan Fernández e as ilhas polinésias de Páscoa, San Félix, San Ambrosio, Sala e Gómez, as ilhas situadas ao sul do canal de Beagle e outras. Além disso, reclama o território da Antártica localizado entre 53'' e 90'' de longitude oeste.

Formado pela vertente ocidental da cordilheira andina, o território chileno caracteriza-se por sua uniformidade morfológica, com relevo geralmente acidentado, mas de estrutura simples e bem ordenada em três grandes faixas longitudinais: duas cadeias montanhosas e uma depressão central que as separa. Essas três unidades morfológicas datam do período terciário, quando o dobramento alpino elevou a cadeia dos Andes.

Na parte oriental encontra-se a primeira faixa longitudinal do relevo. Esse setor, formado pela cordilheira dos Andes (cuja parte setentrional é denominada Domeyko), apresenta uma topografia maciça e imponente. Desde sua formação, essa região montanhosa é atingida por um vulcanismo quase permanente e por freqüentes movimentos sísmicos. No centro e norte dos Andes chilenos, os grandes vulcões, em atividade ou extintos (alguns cobertos por geleiras), constituem as maiores altitudes da cordilheira, como o pico Ojos del Salado (6.893m) e o monte de Llullaillaco (6.723m). Em direção ao sul, a altura diminui até dois mil metros na Terra do Fogo. A cordilheira se divide em inúmeras ilhas, estreitas e largas onde, devido à latitude, a ação dos gelos é muito acentuada. O relevo contínuo da cordilheira dificulta o acesso; no norte, as passagens naturais se localizam a altitudes próximas ou superiores a quatro mil metros (passos de Socompa e San Francisco) e ao sul de Santiago alguns vales transversais de origem glacial facilitam o acesso à Patagônia argentina.

A segunda faixa longitudinal também se estende de norte a sul aos pés da cordilheira andina. Trata-se de uma depressão parcialmente preenchida com aluviões e depósitos de vários detritos que formam planícies estreitas e descontínuas, sobretudo nos pampas desérticos do norte (deserto de Atacama, pampa do Tamarugal), e no grande vale central que se estende entre Santiago e Puerto Montt, e que inclui as bacias dos rios Maule e Bío-Bío.

Paralelamente às duas faixas longitudinais anteriores, estende-se a cordilheira da Costa, de altitude muito mais moderada que os Andes. Sua altura também diminui de norte para sul, de três mil metros da zona de Atacama a dois mil metros na região de Santiago. Seu relevo perde continuidade na mesma direção: forma blocos isolados que, ao sul de Puerto Montt, afloram na ilha de Chiloé e em costas e arquipélagos bastante recortados. No centro e norte, entre a cordilheira da Costa e as águas do Pacífico, encontra-se uma faixa estreita de planícies costeiras e de terraços marinhos que formam um litoral muito reto. Tal fato se deve à disposição longitudinal do relevo que, não penetrando transversalmente no oceano, impede a formação de cabos e baías.

Devido a sua extensão em latitude, o Chile apresenta todos os climas característicos das regiões ocidentais dos continentes, com exceção dos tropicais úmidos e polares.

No norte, fica o deserto (puna) Atacama, onde Iquique tem uma temperatura média anual de 18º C e registra precipitações ínfimas. A partir dos 30º de latitude sul, o Chile central se caracteriza por um clima mediterrâneo, com temperatura média anual de 14º C e precipitações de 360mm, com acentuada seca estival. Em direção ao sul ocorre uma queda de temperaturas e um aumento de precipitações, graças à umidade trazida pelos ventos oceânicos do sudoeste; Valdivia, cidade típica desse clima temperado oceânico, apresenta temperatura média anual de 12º C e precipitações de 2.510mm. O extremo sul do país, devido à grande altitude, é dominado por um clima subpolar.

Essa variedade climática é atenuada de um extremo ao outro do território chileno pela influência moderadora do oceano Pacífico, que, percorrido pela corrente marinha fria de Humboldt, mantém relativamente baixas as temperaturas ao norte do paralelo 40o. Assim, a diferença entre as temperaturas médias anuais da fronteira peruana ao cabo Horn não vai além de 15oC. No norte do país, as águas marinhas frias dão lugar às neves costeiras permanentes conhecidas pelo nome de camanchacas.

Nas regiões montanhosas ocorrem climas de tundra e de altas montanhas acima de quatro mil metros.

A pequena distância que existe entre a cordilheira dos Andes e o oceano determina a configuração de uma rede hidrográfica de rios curtos e pouco articulados (correm paralelamente uns aos outros). O regime fluvial está diretamente relacionado com as condições climáticas: os rios do norte são pouco caudalosos e de regime muito irregular, devido à aridez do clima. O mais importante é o Loa, o único que consegue desembocar no oceano. Em direção ao sul, aumenta o número de cursos fluviais, bem como o volume de suas águas, alimentado pela fusão das neves e pelas chuvas cada vez mais abundantes; no centro e no sul do país, destacam-se os rios Copiapó, Huasco, Limari, Maipo, Bío-Bío, Valdivia e Maullín.

No norte desértico, a umidade das névoas costeiras permite o desenvolvimento de florestas de alfarrobeiras, cactáceas e arbustos espinhosos. O clima mediterrâneo do Chile central propicia a formação de uma estepe de acácias e palmeiras chilenas mais densa que a correspondente aos climas mediterrâneos da Europa; no vale central, cresce o copihue, arbusto trepador cuja flor é típica do Chile. Em direção ao sul, num ambiente muito mais úmido, erguem-se as densas florestas de araucárias, carvalhos e faias, sobre uma densa cobertura de pteridófitas. Finalmente, no extremo sul do país, ocorre o domínio da tundra de tipo subpolar.

A lhama, a alpaca, a vicunha, o puma, a chinchila e o huemul (um tipo de veado), são alguns dos mamíferos mais característicos do país, principalmente das regiões setentrionais e centrais. No extremo meridional destaca-se o guanaco, de que se obtém uma lã de excelente qualidade. O condor vive nos picos andinos, enquanto que nas costas meridionais encontram-se focas, pingüins e baleias.

O Chile possui uma homogeneidade étnica muito maior que a de outros países sul-americanos, pois no período colonial não participou do tráfico de negros e também porque, na segunda metade do século XIX, a imigração européia (alemães, italianos, eslavos, franceses), nunca foi intensa, ao contrário do que ocorreu na Argentina ou no Sul do Brasil.

A maior parte da população chilena, aproximadamente 65%, é mestiça, como resultado da mistura racial de índios e espanhóis durante o período colonial. Vem em seguida a população branca, com cerca de 25%, de origem européia, principalmente espanhola. O grupo indígena tem a menor representação, com aproximadamente dez por cento. Este último grupo é formado por três etnias ameríndias: os araucanos, que ocupam os vales meridionais dos Andes, ao sul do rio Bío-Bío; os fueguinos, na Terra do Fogo; e os changos, que habitam a região litorânea do norte.

De um extremo ao outro do país fala-se o espanhol, embora os grupos indígenas mantenham suas línguas originais.

É bastante alta a proporção de jovens na população do Chile. O crescimento natural, embora elevado, é menor que o dos outros países andinos e tende a diminuir devido ao controle da natalidade.

A distribuição da população no território é muito desigual. O Chile central concentra a imensa maioria dos habitantes do país, enquanto que os extremos norte e sul (deserto de Atacama e Patagônia) são fracamente povoados devido à hostilidade do meio ambiente. Além dessa concentração regional, ocorre uma concentração urbana; cerca de três quartos da população residem nas cidades, o que faz do Chile um dos países com grau de urbanização mais elevado de toda a América Latina.

A região central do Chile conta com uma densa rede urbana, sem equivalente no resto do país. Destacam-se três grandes cidades: Concepción, Valparaíso e, sobretudo, Santiago, a capital do país. No extremo meridional do Chile central, Concepción, com seus anexos marítimos de Talcahuano, San Vicente e Huachipato, forma uma conurbação cuja base econômica é a atividade siderúrgica. Valparaíso constitui o porto de Santiago (a 140km de distância), além de um centro de lazer e industrial (refinarias de petróleo de Concón). Entretanto, Santiago é, incontestavelmente, a metrópole do Chile central e de todo o país. Sua área metropolitana, que abriga um terço da população do vale central, concentra mais da metade das indústrias de toda a nação.

No norte do país, a cidade mais importante é Antofagasta, capital da desértica região do mesmo nome, de cujo porto sai o minério de cobre. Finalmente, no extremo sul do país, encontra-se Punta Arenas, a cidade mais austral do mundo. Punta Arenas foi uma escala importante para a navegação entre o Pacífico e o Atlântico antes da abertura do canal do Panamá, mas depois se transformou em centro de comercialização da lã e da carne produzidas na região sul.

Em meados do século XX, o Chile, que até então fora exportador de produtos agrícolas, transformou-se em importador, uma vez que a produção já não atendia às necessidades internas. São várias as causas dessa crise da agricultura: sistemas tradicionais de cultivo; uma estrutura de propriedade fundiária polarizada entre latifúndios e minifúndios, com propriedades médias pouco extensas; e absenteísmo de muitos proprietários de terras.

Além disso, ao lado das inadequadas estruturas de propriedade agrária, o meio físico representa um obstáculo para o desenvolvimento das atividades agrícolas na maior parte do território chileno, pois apenas 15% do solo é cultivável. Dessa percentagem, quase metade corresponde ao Chile central. No norte só é possível o cultivo de alguns trechos, por meio de irrigação, enquanto que o sul do país (Patagônia) é domínio quase exclusivo da pecuária extensiva.

O primeiro lugar na produção agrária cabe aos cereais: trigo, principalmente, mas também aveia, cevada, milho e arroz. As frutas (maçãs, ameixas, pêssegos e cítricos) seguem-se aos cereais pelo volume de produção. Os vinhedos, introduzidos pelos espanhóis, ocupam grandes extensões na região de Santiago e são a base da segunda indústria vinícola latino-americana depois da Argentina. Outras culturas de menor importância são as leguminosas (feijão, lentilhas e ervilhas) e as batatas. Dentre as culturas de aproveitamento industrial destaca-se a beterraba açucareira.

A pecuária constitui a base econômica da zona meridional. Pelo número de cabeças destaca-se o rebanho bovino. O ovino, segundo em importância, fornece lã para a exportação; metade desse gado se encontra na Patagônia oriental, onde pasta em imensas fazendas. A produção nacional de carne (ovina, bovina e suína), não atende à demanda total, complementada por importações da Argentina.

A piscosidade das águas territoriais do Chile permitiu o desenvolvimento de uma importante indústria pesqueira. Os portos de pesca mais importantes são os de Arica e Iquique. Dentre as espécies capturadas destacam-se a enchova, a sardinha, o atum e os mariscos.

O Chile conta com grandes recursos florestais nas regiões situadas ao sul do rio Bío-Bío. A floresta natural de araucária, carvalho e faia é objeto de uma exploração madeireira que atende às necessidades da marcenaria e da construção, produzindo excedente para exportação. Tem sido fomentado o reflorestamento com pinheiros, que abastecem as indústrias de celulose e papel.

A principal fonte de energia é a hidrelétrica, produzida pelos torrenciais cursos d'água do Chile central. O petróleo é extraído nas províncias de Magallanes e Tierra del Fuego, porém a modesta produção obriga o país à importação.

Desde o século XIX, os recursos minerais constituem a base da economia chilena. Inicialmente, foi o nitrato de sódio, conhecido comercialmente como salitre do Chile, e depois o cobre, de que o país é um dos maiores produtores mundiais.

No Chile, o nitrato natural só é encontrado no deserto de Atacama. Desde o final do século XIX, a exportação desse mineral foi a principal fonte de recursos do país. Depois da primeira guerra mundial, a queda da demanda e, sobretudo, a fabricação de nitratos sintéticos na Alemanha e nos Estados Unidos, provocaram uma forte crise na exportação do salitre do Chile, que não podia competir com o preço baixo dos produtos sintéticos.

A queda do nitrato foi compensada pela crescente importância do cobre. O Chile possui um quarto das reservas mundiais desse mineral. As principais minas são as de El Teniente (Rancagua), Chuquicamata (Antofagasta), Potrerillos (Copiapó), El Salvador e Río Blanco. A exploração estava nas mãos de empresas americanas, empresas médias chilenas e mineiros particulares (garimpeiros), mas foi nacionalizada na segunda metade do século XX.

O subsolo chileno possui ainda reservas de ferro, ouro, prata, manganês, mercúrio e enxofre.

O Chile é um dos países mais industrializados da América do Sul, ao lado do Brasil e da Argentina. Entretanto, sua indústria não tem conseguido atender às necessidades do mercado nacional. Embora a partir da década de 1960 tenha sido iniciada uma política de descentralização, o Chile central continua a concentrar a maior parte das instalações industriais.

A siderurgia, instalada em grandes complexos em Huachipato e Talcahuano, fornece produtos semi-acabados às indústrias automobilística e naval. A indústria química, que teve início com a produção de adubos nitrogenados, diversificou-se, e a petroquímica atingiu grande importância em Concón e Talcahuano.

Entre as indústrias de bens de consumo, destaca-se a têxtil, que se localiza em Concepción, Valparaíso e Santiago. As indústrias alimentícias são muito variadas, com destaque para as de carnes, farinhas, laticínios, conservas e bebidas alcoólicas.

O desenvolvimento da infra-estrutura rodoviária tem sido dificultado pela configuração do relevo e também pela pouca uniformidade da distribuição demográfica.

A rede rodoviária, que praticamente não chega ao sul do país, organiza-se em torno de uma artéria principal, a pan-americana, que parte de Puerto Montt em direção ao norte. A rodovia transandina liga o Chile à Argentina pelo passo de La Cumbre (3.832m), que permanece intransitável durante cinco meses por ano.

O sistema ferroviário é um dos melhores da América do Sul, embora as diferentes bitolas sejam um grave problema. As principais vias transandinas ligam-se à Argentina (Los Andes-Mendoza e Valparaíso-Santiago-Antofagasta-Salta) e com a Bolívia (Arica-La Paz).

A insuficiência de transporte terrestre é compensada pela grande importância da aviação e do transporte marítimo, tanto nas comunicações internas como nas externas. O porto de Valparaíso apresenta movimento de importações, enquanto os de Iquique, Tocopilla, Huasco, Chañaral e Coquimbo dão saída às exportações de minerais. Os principais aeroportos encontram-se em Santiago, Valparaíso, Arica, Antofagasta e Punta Arenas.

Antes da chegada dos espanhóis, o território chileno era habitado por cerca de 500.000 índios. Embora os diversos povos tivessem entre si relação étnica e lingüística, as tribos do norte (atacamenhos e diaguitas) apresentavam maior desenvolvimento cultural, devido ao contato que mantinham com o império inca. Ao sul do rio Bío-Bío viviam os indomáveis araucanos, que resistiram durante séculos à colonização.

A falta de metais preciosos obrigou os colonizadores a se dedicarem à agricultura. Dentro do império, o Chile era uma colônia pobre, sem recursos minerais e nem mesmo comércio, e por isso a coroa tinha de destinar-lhe recursos econômicos para manutenção do governo e do exército. Essa ausência de atrativos explica que, no final do século XVI, não houvesse mais que cinco mil espanhóis na colônia.

Administrativamente, o Chile fazia parte do vice-reino do Peru. Dentro da colônia, o capitão-geral detinha o poder absoluto sobre a população, embora, teoricamente, fosse possível apelar ao vice-rei ou ao rei da Espanha.

Da mesma forma que em outras partes do império espanhol na América, no Chile ocorreu intensa mistura de índios com brancos, o que explica a homogeneidade étnica de sua população. Ao final do período colonial, havia uns 300.000 mestiços, 175.000 brancos (espanhóis e crioulos) e 25.000 negros, na maioria escravos. A estrutura social se apoiava na divisão racial: os espanhóis e crioulos ocupavam os postos mais importantes; mais abaixo estavam os mestiços e índios; e os trabalhos mais duros eram destinados aos negros.

A população se concentrou no denominado "berço da nação chilena", ao longo do vale do Aconcágua, e entre Santiago e Concepción. Nessas regiões praticava-se uma agricultura cerealista, com utilização de mão-de-obra indígena. Os morgadios, concedidos a membros da nobreza espanhola, foram estabelecidos nas melhores terras do país, o que deu origem à posterior estrutura da propriedade fundiária. A colônia viveu muito isolada do resto do império.

Apesar do isolamento em que vivia a colônia, os acontecimentos do final do século XVIII e princípio do XIX favoreceram a formação de uma consciência nacional. Dentre esses acontecimentos destacam-se a independência das colônias anglo-americanas e do Haiti, a revolução francesa e o enfraquecimento da metrópole, que se revelou na invasão britânica do vice-reino da Prata, a intensificação do contrabando comercial e a ocupação da Espanha pelas tropas napoleônicas.

Em 1810, depois de reunir-se em Santiago um cabildo aberto constituído pelos representantes dos grupos privilegiados, formou-se um governo provisório composto por líderes locais. Entre 1810 e 1813, esse governo realizou importantes reformas, como a proclamação da liberdade comercial e o estímulo à educação. Entretanto, logo surgiram dissensões entre os crioulos com relação à extensão das reformas. Enquanto isso, a Espanha, que em 1813 expulsara os franceses de seu território, deu início à recuperação do controle sobre as colônias. Em outubro de 1814, depois da derrota dos patriotas em Rancagua, o Chile retornou ao domínio espanhol.

Os líderes da independência tiveram que se exilar. Além disso, no interior do país crescia o descontentamento com o governo da colônia. Em fevereiro de 1818, foi proclamada a independência e, em abril, depois da batalha de Maipú, os espanhóis abandonaram o país, embora ainda tenham permanecido na ilha de Chiloé até 1826.

O Chile tinha conseguido a independência, mas não a paz. Os crioulos estavam divididos entre os partidários. Entre 1823 e 1830, a política chilena esteve dominada pela luta entre diversas facções para conquistar o poder. Esse fato redundou na existência de trinta governos em sete anos. O caos político terminou em 1829, quando os conservadores, com o apoio de parte do Exército, nomearam uma junta. A partir de 1830, a oligarquia crioula dominou o país. A constituição de 1883 criou um sistema político centralizado, que atendia aos interesses dos proprietários de terras. O governo se viu fortalecido depois da vitória na guerra contra a confederação peruano-boliviana (1836-1839).

Entre 1831 e 1851 a estabilidade política e a prosperidade econômica permitiram que tivesse início a modernização do país, impulsionada pela construção de estradas de ferro e criação de universidades. O progresso econômico, porém, foi acompanhado de uma autêntica desnacionalização das riquezas. Tanto o controle do comércio como a exploração das minas passaram para mãos britânicas, francesas, alemãs e americanas, devido ao pouco interesse da oligarquia chilena por qualquer atividade econômica além da compra de terras.

Como conseqüência do desenvolvimento econômico, surgiu uma nova classe, a burguesia nacional, que tentou participar da vida política. A resistência dos proprietários de terras à divisão do poder levou as classes médias a lançar mão da via insurreicional, com um frustrado golpe de estado em 1851. Ao mesmo tempo, o liberalismo começou a ganhar terreno entre os jovens integrantes da oligarquia e os grupos políticos de classe média.

Em 1872, no entanto, rompeu-se a unidade dos liberais devido à política laicista do governo, que se plasmou nas leis de liberdade religiosa e de educação. Começou então um período de secularização e de abertura para o exterior que pôs fim ao isolamento chileno e se expressou na influência da cultura européia no país.

A introdução de colonos europeus no sul do país, a partir de meados do século, provocou o recrudescimento das hostilidades com os índios araucanos, que mantinham o limite de seu território no rio Bío-Bío. O uso do fuzil de repetição pelo Exército chileno nas campanhas militares de 1882 e 1883 precipitou a derrota dos índios.

As guerras pioraram a situação da fazenda pública. O presidente exigiu os lucros das minas para o estado, o que provocou a reação contrária da oligarquia econômica, que não desejava um poder central muito forte. A divisão da classe dirigente levou a uma curta guerra civil.

O Chile deixou de ser uma república presidencialista e se transformou em república parlamentarista. No novo sistema político, a oligarquia agrária e financeira exerceu o poder através do controle do Parlamento.

À luz da nova legislação surgiram partidos que defendiam os interesses das classes sociais (operários, funcionários) surgidas em conseqüência do desenvolvimento da burocracia, da mineração, grandes empresas de gás, eletricidade e estradas de ferro. Esses partidos organizaram movimentos grevistas em prol de reformas sociais. A instabilidade política e social acentuou a depressão econômica num momento em que a produção agrária mal abastecia o mercado nacional, pois a produtividade era muito baixa devido à ausência de capitalização, e a indústria definhava por falta de investimentos.

Período de instabilidade política: 1920-1938. A crise econômica gerou grande descontentamento entre as classes populares e a classe média, ao mesmo tempo que a oligarquia, cujo poder político estava muito desgastado, era incapaz de acabar com o clima de agitação.

Em 1925, os militares, apoiados pela classe média, reconduziram ao poder. A depressão econômica acentuou-se depois da crise internacional de 1929, que teve efeitos catastróficos para o Chile, com a queda do preço e da demanda internacional de suas matérias-primas e a suspensão dos empréstimos dos Estados Unidos.

As classes médias e populares, as mais atingidas pela crise, se mobilizaram. Foi criado então um estado corporativista inspirado no fascismo italiano. Em 1931, o fracasso dessa experiência provocou a volta ao regime civil, substituído por uma curta coligação político-militar que transformou o Chile em república socialista entre junho e setembro de 1932. No final deste mesmo ano, superada a fase mais aguda da depressão econômica, Alessandri ganhou as eleições e voltou à presidência do país.

O novo governo, de 1932 a 1938, caracterizou-se pelo respeito às instituições constitucionais, pela estabilidade política e pelas medidas tomadas para superar a crise econômica (subvenções à indústria, criação de um banco central e desenvolvimento do setor público para diminuir o desemprego).

O descontentamento dos trabalhadores e da classe média com o governo traduziu-se no apoio dado ao Partido Radical, que alcançou a vitória na eleição de 1938.

Durante os quatorze anos de governo radical, verificou-se acentuado desenvolvimento industrial e aumento da percentagem de população urbana, que em 1952 chegou a sessenta por cento.

Período de estagnação: 1952-1964. A vitória eleitoral de um antigo ditador, pode ser explicada pela decepção da classe média com os radicais, que não conseguiram aumentar a influência política desse grupo social, devido ao empobrecimento das classes populares e à crescente dependência dos Estados Unidos. Durante seu mandato presidencial, surgiu na cena pública chilena um novo tipo de político até então desconhecido, o populista.

Em 1958, o novo presidente eleito governou com o apoio de conservadores e liberais. Teve alguns êxitos no campo econômico: reduziu o desemprego e a inflação, favoreceu o desenvolvimento industrial. A política de contenção salarial, porém, opôs o governo aos trabalhadores e à classe média.

O descontentamento popular favoreceu o fortalecimento dos partidos de esquerda (socialistas e comunistas) e da democracia cristã, partido reformista de centro fundado em 1957, que pretendia acabar com o tradicional poder social e político da direita por meio de reformas econômicas, sobretudo no setor agrário.

O governo democrata-cristão e a experiência socialista. Nas eleições de 1964, a esquerda se apresentou dividida e o Partido Democrata Cristão conseguiu uma arrasadora vitória eleitoral. Com o lema de "revolução em liberdade", Eduardo Frei Montalva tornou-se o novo presidente do país. Elaborou um programa de "chilenização" que contou com o apoio da classe média. Sua realização mais importante foi a reforma agrária, iniciada em 1967, que expropriou, mediante indenização, as terras não-cultivadas e limitou as propriedades a oitenta hectares. Em 1970, já haviam sido expropriados cerca de 200.000 hectares. A política reformista dos democratas-cristãos aumentou a expectativa de melhorias sociais entre as classes populares. Os trabalhadores começaram a participar ativamente na política e foram-se inclinando cada vez mais para a esquerda.

Em 1969 foi criada uma coligação de esquerda com vista às eleições presidenciais. Compunha essa nova formação, a Unidade Popular, socialistas, comunistas e pequenos grupos da esquerda marxista e não-marxista. Um ano depois o socialista Salvador Allende, candidato da Unidade Popular, foi eleito presidente da república.

O programa da Unidade Popular pretendia fazer a transição pacífica para o socialismo, mantendo o sistema democrático. Para conseguir esses objetivos, o governo acreditava ser necessário acabar com o poder político e econômico dos bancos, nacionalizar as empresas em mãos de estrangeiros, desenvolver a reforma agrária e redistribuir a riqueza em favor das classes mais desfavorecidas. Com esse programa de mudança social, o governo de Allende aumentou seu apoio popular nas eleições municipais e legislativas de 1971 e 1972.

A junta militar revogou em 1973 a constituição de mais longa vigência na história do Chile, a de 1925. Até 1980, o governo manteve um vazio institucional que terminou com a promulgação da constituição de 1981, de caráter presidencialista. Até sua plena entrada em vigor, o presidente da república e chefe do Exército comandou também a Junta de Governo que concentrava transitoriamente os poderes executivo, legislativo e militar.

A constituição de 1981 adotou fórmulas próprias de definição do sistema social, como a divisão de poderes e a participação dos cidadãos na vida pública, embora seu desenvolvimento tenha permanecido restrito durante o período previsto de transição.

O Chile tem uma organização administrativa bastante centralizada. O presidente nomeia os intendentes ou governantes de cada uma das 51 províncias e eles, por sua vez, escolhem delegados que supervisionam a gestão municipal. Os prefeitos das cidades de mais de cem mil habitantes também são nomeados pelo presidente.

O Chile se destacou por possuir uma das legislações trabalhistas mais avançadas da América do Sul. Em 1924 foram promulgadas leis que regulamentavam o regime de contratação e o seguro de acidente de trabalho e de doença. Em 1931 criou-se o Código do Trabalho, que ampliou a legislação trabalhista anterior e, nos anos seguintes, a proteção social se ampliou com o Serviço de Seguro Social. A previdência ficou assegurada por meio de centros privados e do Serviço Nacional de Saúde, organismo vinculado ao Ministério da Saúde. A crise econômica que atingiu o país na década de 1970, no entanto, e a filosofia antiestatizante do regime militar, reduziram fortemente os serviços da previdência social do estado.

A legislação educacional de 1965 estabeleceu a obrigatoriedade de escolarização de todos os chilenos (decreto do ensino entre 7 e 15 anos), e promoveu a renovação dos métodos pedagógicos e dos programas escolares.

O primeiro ciclo educacional, denominado ensino básico, vai dos 7 aos 12 anos e consta de três graus, com dois cursos cada um. Para cobrir o tempo de obrigatoriedade é acrescentado um quarto grau, o profissional. Ao terminar o primeiro ciclo, os alunos escolhem entre o ensino médio geral, o técnico ou o profissional, que dura seis anos. O ensino superior é ministrado em centros universitários, públicos, católicos, leigos e particulares. O país possui uma série de escolas profissionais dedicadas ao ensino de comércio, indústria e belas-artes.

A colonização espanhola introduziu o catolicismo, que rapidamente se transformou na religião predominante. Com Pedro de Valdivia desembarcou no Chile o capelão Rodrigo González de Marmolejo, que deu início à evangelização. Em 1550 chegaram os religiosos da Ordem de Nossa Senhora das Mercês e, pouco depois, os franciscanos, dominicanos e jesuítas, que fundaram vários colégios.

Em 1818, depois da independência, o catolicismo foi reconhecido como a religião oficial do estado. A partir de 1878, porém, vários governos empreenderam uma campanha de laicização que culminou na constituição de 1925, que estabeleceu a separação entre igreja e estado.

Embora a maioria da população chilena seja católica, existe uma importante colônia protestante (o grupo mais numeroso é o da Igreja Evangélica), que entrou no país durante a penetração européia do século XIX. No norte do Chile, um setor da população indígena segue tradições religiosas de tipo animista.

O primeiro escritor chileno foi o próprio conquistador Pedro de Valdivia, que em suas Cartas a Carlos I descreveu com admiração a terra ocupada. Os gêneros literários mais cultivados durante o período colonial foram as crônicas e os poemas épicos que tratava das guerras entre índios e espanhóis, e que constituiu um modelo para a literatura chilena ao longo de sua história.

Depois da independência, Andrés Bello, de origem venezuelana, iniciou a literatura nacional de tipo nativista, movimento que seria seguido por vários escritores durante o século XIX. O anti-hispanismo de alguns deles levou-os a seguir os modelos franceses ou alemães, enquanto que outros se deixaram influenciar pelo romantismo.

A influência de Tiahuanaco e, posteriormente, do império inca, formou a arte e cultura dos povos pré-colombianos do norte do Chile, como os diaguitas e atacamenhos. No centro e sul, os araucanos se destacaram pela elaboração de máscaras e esculturas talhadas em pedra. Cabe assinalar, por sua originalidade, a arte da ilha da Páscoa, representada pela monumentalidade das famosas cabeças esculpidas na pedra e pela delicadeza de algumas pequenas esculturas de madeira.

Os monumentos do período colonial não são muito expressivos e muitos deles foram destruídos por incêndios ou terremotos, como a primitiva catedral de Santiago.

Na capital, o único monumento que conserva o traçado original é a igreja de São Francisco, construída no século XVI.

Do século XVII existem ainda alguns palácios e casas de estilo espanhol com pequenos pátios internos. O palácio presidencial, antiga Casa da Moeda, mistura de barroco e neoclássico, foi construído pelo italiano Joaquín Toesca no final do século XVIII. No século XIX, os franceses Raymond Monvoisin e Claude-François Brunst de Bains ergueram importantes edifícios em Santiago e deram impulso a sua Escola de Arquitetura. Além de outros arquitetos estrangeiros, Fermín Vivaceta e Manuel Aldunate contribuíram para reforçar o caráter nacional da arquitetura chilena. No século XX, destacaram-se os trabalhos do grupo dos Dez e de Emilio Duhart, autor do colégio da Aliança Francesa. Outros arquitetos importantes foram Sergio Larraín, Jaime Bellalta e Jorge Costábal.

A pintura nacional chilena teve início com José Gil de Castro, no período da independência. Diversos estilos e tendências se sucederam até a terceira década do século XX, quando se desenvolveu a obra do grupo Montparnasse, com influência de Paul Cézanne. Posteriormente, a pintura chilena alcançou projeção internacional com a obra de Roberto Matta. Outros pintores de destaque foram José Balmes, Elsa Bolívar, Cecilia Vicuña, Eduardo Martínez Bonatti, Ramón Vergara, Ernesto Barreda e Carmen Silva. Na música do século XX, destacam-se a cantora popular Violeta Parra e o pianista Claudio Arrau.


fonte:
http://www.emdiv.com.br/pt/mundo/asmaravilhas/815-chile-historia-geografia-e-cultura.html



dica: Binha Martins
Nós e outros Olhos

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